Maria Betânia Monteiro - repórter escreveu:
Seja com aquarela, nanquim ou qualquer outro material que se refaça na água, a artista plástica potiguar Hanna Lauria ilustra as suas ideias. Mantendo o traço preciso (e livre), consciente, delicado e acima de tudo criativo, a artista lança para o público o resultado do amadurecimento conquistado nestes últimos anos com a exposição “Obra Malandra”. Os vinte sete quadros pendurados a partir de hoje, nas paredes do Palácio da Cultura é uma releitura da versão de Chico Buarque para a “Ópera do Malandro”. Apesar de ser um texto político, as personagens de Hanna continuam em primeiro plano. A abertura da exposição está marcada para hoje, às 19h.
Adriano AbreuPintando desde os 12 anos, Hanna mostra um nítido amadurecimento como artista
“Hanna mostra que passou o tempo das bonecas ingênuas. A seriedade da pesquisa e a aplicação eficiente de uma linguagem visual personalizada atestam que estamos diante de uma nova Hanna, amadurecida como artista e como mulher”, disse o artista e crítico Vicente Vitoriano, um dos curadores desta exposição. Esta curadoria é dividida com a artista plástica Ana Rique, que também falou sobre Hanna; “é uma artista extremamente produtiva. Quando desenha, sempre nasce uma ideia, uma história. Suas bonecas são imagens que se transformam em personagens. Como um todo, seu trabalho tem opinião e macas pessoais, é expressivo e mostra muita emoção”.
Hanna percebe o amadurecimento em seu trabalho e antecipa as novidades. Na entrevista ao VIVER, ela pergunta: “você sabe o que tem de novo?”. Esta repórter tentou adivinhar, sugerindo que suas bonecas haviam ganhado pescoço. Ela dá uma boa risada e diz. “Nunca no Brasil! Elas ganharam braços e mãos”, disse.
Outra novidade é que elas agora trazem um corpo mais maduro e estão na companhia de bonecos. A nova coleção de Hanna, também traz mudança nos cenários. Eles estão mais detalhados e mais presentes na obra. Em “Obra Malandra”, os cenários mais explorados são os do bairro da Lapa, no Rio de Janeiro.
Segundo Hanna, ela queria fazer uma homenagem ao Brasil e como o tema era abrangente demais ela buscou se concentrar num aspecto específico. A ideia foi ganhando forma quando Hanna ouviu a música Geni e o Zepelim, de Chico Buarque. A música é uma das que compõe a Ópera do Malandro.
A partir da ópera Hanna ficou imersa numa pesquisa, que passou desde a compreensão do que seria uma ópera, passando pela reflexão sobre os anos de 1940. Ela leu textos sobre o assunto, assistiu filmes com temas semelhantes. “Foi uma pesquisa muito prazerosa”, disse Hanna.
As cenas de papel
Debruçada sobre o papel em branco, Hanna foi elaborando suas figuras com a ajuda da poesia sonora de Chico Buarque. Algumas imagens destacadas pela artista foram a de um quarto de bordel, onde um casal começa (ou termina) uma cena amorosa e outra onde três rapazes se divertem num bar.
Apesar das cenas sisudas: bordéis, bares e a própria rua, tudo é traçado com muita delicadeza, algo que Hanna faz questão de frisar: “não me prendi a questão política. Ressaltei o lado romântico da ópera”. Traduzindo em imagens, ela detalhou as cenas a partir de uma visão humana e afetiva.
Na obra já citada, onde um casal se encontra no quarto de um prostíbulo, não bastou a Hanna desenhar com detalhes as roupas dos personagens, o papel de parede, os móveis típicos daquele período, ela ainda colocou um penico debaixo da cama. “Minha professora, Ana Rique olhou o quadro e disse: está lindo. Perfeito. Eu respondi que faltava uma coisa, o penico”, relembra Hanna. Para ela, só seria possível desenhar o sexo sem vulgaridade se os elementos fossem inseridos com humor.
Além dos ambientes retirados da história, Hanna fez questão de desenhar alguns dos personagens, que lhe deram inspiração como a Geni, para qual Chico Buarque fez os versos: “Joga pedra na Geni/ Ela é feita pra apanhar/ Ela é boa de cuspir/ Ela dá pra qualquer um/ Maldita Geni”.
As expressões dos personagens, a vivacidade dos gestos, a delicadeza e complexidade das estampas, as roupas coerentes com o período histórico retratado demonstram o empenho de Hanna, algo eu se justifica pelo prazer que sente em ser artista. “Quando a arte bate na tua porta e entra, nunca mais sai. Ela invade o ser como uma peste boa. A arte depois que contamina, não tem mais cura”, disse.
Artista desde a infância
O talento de Hanna despontou ainda na infância. Aos treze anos foi convidada pela artista plástica paulista, Ivani Castilho, para participar de um curso de aquarela na Europa. Devido a pouca idade, o convite foi adiado. Quase dez anos depois Hanna anuncia que finalmente vai aceitar o convite. Em setembro do ano que vem Hanna e suas bonecas aquareladas viajam para as cidades de Veneza e Toscana, na Itália.
Enquanto o dia da viagem não chega, Hanna continua numa rotina bem puxada. Frequenta o Ateliê Ricardo Tinoco e faz aulas na universidade, no grupo Guape, ao lado de seus amigos e tutores artísticos Vicente Vitoriano e Ana Rique.